Você sabe quem são as pessoas que trabalham no Vale do Silício? São homens brancos heterossexuais, mulheres, negros, transexuais e pessoas das mais variadas etnias e origens. Para mostrar que diversidade cultural existe e importa dentro de empresas de tecnologia, foi criado o Techies.
Helena Price, dona do projeto, pretende dar voz aos funcionários do Vale que são subrrepresentados. Ela quer mostrar, por meio da fotografia, de onde vieram, como começaram a trabalhar com tecnologia, quais foram suas principais conquistas e os obstáculos que enfrentam.
Podem entrar pessoas com problemas emocionais, pais que trabalham, a comunidade LGBT, funcionários que têm mais de 50 anos e trilharam seu caminho em tecnologia mais tarde… a lista é longa. Helena só tem uma exigência: que fique de fora quem sempre foi protagonista.
O peso da trajetória individual
Helena Price trabalha com tecnologia desde 2009. Primeiro, como funcionária de uma startup de emails, similar ao conhecido provedor gmail entrar que fora criado pelo Google, hoje, como fotógrafa. Por ser mulher e trabalhar em São Francisco (onde fica o Vale do Silício, nos Estados Unidos), seu projeto é uma realização pessoal.
Quem deseja participar precisa preencher este formulário, dando informações como: há quanto tempo trabalha com tecnologia, principais vitórias da carreira e maiores desafios. Morar na área de São Francisco não é um requisito, mas é preciso se deslocar até lá para ser fotografado por Helena.
O participante também deve revelar sua história de vida em uma entrevista. Saber de onde aquela pessoa veio é uma maneira de entender melhor sua trajetória. O ponto de partida faz diferença.
O objetivo é desconstruir a ideia de meritocracia. No Vale do Silício, valoriza-se profissionais com certas características. Geralmente são homens brancos, heterossexuais e com histórias mais lineares.
Para a fotógrafa, há pessoas que precisam enfrentar mais obstáculos para ter sucesso na carreira. Isso acontece tanto por preconceitos enraizados no Vale, quanto por dificuldades particulares. E isso não é levado em conta na hora da contratação ou de uma possível promoção.
Diversidade cultural
Quem acessa o projeto pode filtrar histórias por mais de 20 categorias como “LGBT”, “Pobreza”, “Imigrante”, “Pesquisador”, “Designer” e mais.
Na categoria “Trans/Genderqueer”, por exemplo, há a história de February Keeney. Ela trabalhou com tecnologia por 15 anos antes de se assumir mulher. Conta que, antes da transição, tentou ir a entrevistas usando batom e saia. Nunca foi contratada. Quando decidiu ir vestida como homem, conseguiu um emprego.
Segundo February, há uma grande diferença entre ir a uma entrevista como mulher. “Muitos homens não querem trabalhar com uma mulher, ou para uma mulher. Sobretudo, eu não quem estava me lendo como pessoa trans e sendo transfóbico. É muito fácil sabotar alguém no processo de entrevista”, conta.
Hoje, é mulher e trabalha com tecnologia. Seu caminho foi árduo mas, para ela, há quem esteja ao lado de grupos descriminados.
Na categoria “Imigrantes”, há pessoas que precisaram enfrentar preconceitos e dificuldades financeiras. Em “Saúde Mental”, há aquelas que tiveram de lidar com quadros de depressão, violência doméstica e dificuldades parecidas. São histórias de superação. Elas mostram que, no Vale do Silício, há sim espaço para todos. Mas as oportunidades não são criadas de forma justa igualitária.
Elefante no Vale
O Elefante no Vale é mais um projeto que pretende colocar em debate questões de meritocracia e subrrepresentação em companhias de tecnologia. Nesse caso, o foco são mulheres.
O sexo feminino ocupa menos vagas e menos posições de destaque. Além disso, lida com preconceitos e até com assédio. Segundo o Elefante no Vale, 60% das trabalhadoras do Vale do Silício alegam que já foram assediadas sexualmente.
Também discutimos a possibilidade de a desigualdade de gênero no Vale ser cultural e estrutural. Isso significa que condutas tipicamente masculinas são valorizadas. Homens acaba tomando a linha de frente e conseguindo os melhores cargos.